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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Garra de Ouro divulga sinopse do enredo para 2017

De volta ao Segundo Grupo (atual Grupo A) do Carnaval de Niterói,o GRES Garra de Ouro divulgou nesta quarta-feira, 21 de dezembro de 2016, a sinopse do enredo para o Carnaval 2017. Mais uma vez o colunista da Cadência, Professor Mariano, assina a sinopse, e mais uma vez a escola do Largo da Batalha exalta o negro. Desta vez homenageando as Tias-Matriarcas do samba, reverenciando também todas as mulheres sambistas que ajudaram na evolução e consagração do samba e mostrando o papel mantenedor dessas Damas na construção da identidade cultural do Rio de Janeiro.

Confira a sinopse:

Enredo: "AS TIAS MATRIARCAS DO SAMBA"
Autor: Professor Mariano

Antes de se tornar símbolo da identidade nacional pelo Estado, o samba percorreu uma saga em busca do respeito social. E parte desta saga aconteceu no lar destas mulheres negras guerreiras e inteligentes, que usaram o talento feminino para dialogar com a sociedade e fazer da sua cultura e luta do seu povo referencial e identidade de uma cidade e país.
O Grêmio Recreativo e Cultural Garra de Ouro com esta homenagem as nossas Tias-Matriarcas do nosso samba, reverência todas as mulheres sambistas que também ajudaram em muito na evolução e consagração do samba, mas que infelizmente são pouco lembradas nos enredos atuais de escolas de samba.

Apresentação

Olha o grupo das baianas é um grupo de senhoras. [...] nós gostamos sempre de estar juntas fazendo alguma coisa por nós mesmas [...] É uma ala muito respeitada, uma coisa que comove e para ser baiana, uma boa baiana, tem que amar o rodopiar da baiana, erguer sua mão direita e girar. (Izoneth Batista, baiana da escola de samba Imperatriz Leopoldinense).
O belíssimo depoimento da senhorinha baiana da gloriosa Imperatriz Leopoldinense ilustra a apresentação do nosso enredo,mas acima de tudo, faz um elo histórico e sentimental, entre a ala das baianas das escolas de samba, com as homenageadas do nosso enredo, as Tias baianas.

Nossas baianas de hoje usam a mesma indumentária das baianas dos terreiros de tempos vividos. Hoje são elas que cuidam do universo do samba. Sem elas as escolas de samba não conseguem funcionar. Elas formam o coral feminino nos ensaios, responsáveis pela cozinha, local sagrado, onde se dá vida ao que está morto. São verdadeiras alquimistas que transformam e movimentam a natureza. No seu gingado e rodopiado a baiana de hoje é o fio condutor da vida das escolas e do samba em si. A cada desfile elas morrem e nasce trazendo consigo o dom de serem as Damas mães de santo e do samba, educadoras e líderes comunitárias.

Enquanto as classes populares, em sua minoria proletarializadas, sob a liderança inicial dos anarquistas, se organizam em sindicatos e convenções trabalhistas, grande parte do povão carioca que se desloca do cais para a cidade nova, para o subúrbio e para a favela, predominantemente negro e mulato, também se organiza politicamente, em seu sentido extenso, a partir das casas de santo e das organizações festeiras. É dentro deste contexto que as tias baianas ganham respeito por suas posições centrais no terreiro de candomblé e por sua participação conseqüente nas principais atividades do grupo que garantem a permanência das tradições africanas e as possibilidades de sua revitalização na vida mais ampla da cidade carioca.

Tia Ciata a mais famosa, Tia Carmem do Xibuca, Tia Tetéia ,Tia Perciliana, Tia Bebiana, Tia Gracinda, Tia Josefa da Lapa, Tia Perpétua, Tia Veridiana e Tia Sadata da Pedra do Sal. Fizeram a história daquilo que o saudoso Heitor dos Prazeres (Já homenageado pela nossa escola), classificou de Pequena África. Geograficamente a pequena África, corresponde à Zona do Centro e Portuária, Praça Mauá, Morros da Conceição e Providência. Foi neste ambiente, que estas mulheres inteligentes e bem articuladas com o seu meio social começaram a promoverem encontros sociais, que mais tarde se tornariam as famosas festas das tias baianas.

O tratamento de Tia, não se dava apenas por respeito à idade dessas mulheres, mas também consagrava seu sucesso pessoal. Eram baianas que revelavam o talento e a expertise das mulheres maduras em pleno século 19, onde o machismo predominava e o preconceito da cor também. Essas Damas negras assumiam o aluguel dos casarões onde moravam com a família, protegiam os imigrantes recém - chegados, comandavam os cultos de candomblé, organizavam os Ranchos durante o carnaval e promoviam festas.

As festas das Tias baianas eram frequentadas por gente de todo tipo – funcionários públicos, militares de baixa patente, jornalistas e boêmios em geral – e, principalmente por artistas que entrariam para a história da nossa música, com Pixinguinha, João da Baiana e Donga.

João Alabá pai de santo, sua casa de candomblé era um dos mais importantes pontos de convergência e de afirmação dos baianos no Rio de janeiro. Ele iniciou no santo, a maioria das Tias baianas, inclusive a mais famosa delas Tia Ciata. Filha de santo de Alabá se torna Yalorixa, quando herda sua casa de santo.

Entorno da casa de santo do Pai João Alabá, as Tias baianas se tornaram os grandes esteios da comunidade negra, responsáveis pela nova geração que nascia carioca, pela religião e pelas frentes de trabalho comunal, rainhas negras da Pequena África.

Os ranchos também foram fruto do trabalho e dedicação das tias baianas. Os hábitos de solidariedade, de trabalho e criação coletiva tornavam possíveis as saídas dos ranchos nas noites de carnaval. Eram estas mulheres, que bordavam as roupas, confeccionavam os ornamentos, os instrumentos de percussão e criavam o enredo e as músicas.

Mas foi na casa da tia Ciata a mais famosa de todas as Tias baianas que os valores do grupo de baianos instalados no Rio no início do século XX, foram reforçados. Os valores culturais das classes subalternas estavam sendo rechaçados e perseguidos pelo Brasil da Belle Époque, mas foram reelaborados na pequena África e através de uma rede de comunicação, conseguiu atrair a classe média artística e empresarial que passaram a admirar e a incentivar a cultura negra.

No terreiro da Ciata, o samba moderno vai ganhando vida. Através do aprendizado que terá com os batuques realizados no culto de candomblé. Nesses cultos, se praticará o samba perene composto por uma orquestra de percussão de origem africana. Que em regra tinha a participação de quatros instrumentos, tabaque, agogô, chocalho e cabaça.

Pelo telefone teria nascido nas frequentes rodas de samba da casa da Tia Ciata. Em sua versão original inicial foi como partido, portanto aberto, às improvisações, esse samba, o primeiro a ser comercializado no Brasil, foi cantado “solto como um pássaro” até 1916, quando foi lançado no mercado musical.

Todo esse caldeirão cultural criado pela comunidade baiana-afro carioca, na medida em que vai quebrando a barreira do preconceito racial e social e a perseguição da polícia, dará à cidade do Rio de Janeiro um novo perfil cultural. Este novo perfil ganhará força e simbolizará a cultura popular da cidade do Rio de Janeiro.

A festa da Penha foi uma atividade cultural que teve participação direta da comunidade baiana liderada pelas Tias. Ela ajudou na aproximação e encontro da comunidade da pequena África com o restante da cidade. Através da festa da penha as baianas popularizaram sua deliciosa culinária e divulgou diversos artistas e sambistas.

Hoje olhando para a nossa Garra de ouro, temos na ala das nossas queridas baianas, a representação da cultura trazida por essas mulheres guerreiras no final do século 19 para o Rio de Janeiro. A cada rodopiada dada por estas mantenedoras do samba vem à lembrança da diáspora destas corajosas mulheres que com sua saia rodada, pano de costa e turbante, espalhou sedução, amor e crença para aqueles que foram atraídos por sua doce e irresistível cultura.

Em um presente aonde o ataque aos direitos das mulheres vem sendo infelizmente uma prática da nossa sociedade machista e consumista. Reviver a saga destas damas negras do samba e do candomblé é valorizar o papel da mulher negra na construção da identidade cultural do Rio de Janeiro e porque não dizer do Brasil.

Justificativa do Enredo

Mostrar o papel mantenedor das Tias baianas na construção da cultura popular moderna do Rio de Janeiro. Valorizando assim, a participação e liderança da mulher negra na construção da identidade cultural do Rio de Janeiro.

Bibliografia

- Bissoli, Magno. Samba e identidade Nacional. Rio de Janeiro: Editora Unesp, 2012.
- Cavalcanti, M. Carnaval, ritual e arte. Rio de Janeiro: 7 letras, 2015.
- Lopes, Nei. História e cultura africana e afro-Brasileira: São Paulo: Barsa Planeta 2008.
- Moura,R. Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: MEC/ Funarte,1983.
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