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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

“Lições do carnaval paulistano”

Nosso colunista Professor Mariano visitou o carnaval de São Paulo e gostou do que viu. Entre os pontos positivos, a valorização da cultura local e recuperação dos elementos tradicionais de um desfile.

Confira a opinião do Professor e a inevitável comparação com o carnaval carioca.





“Lições do carnaval paulistano”
por Professor Mariano, em 22 de fevereiro de 2016

Este ano pela primeira vez, tive a oportunidade de assistir os desfiles das escolas do grupo principal de São Paulo.

Por muito tempo, se nutriu aqui no Rio de Janeiro, certo preconceito em relação aos carnavais que se faziam na terra da garoa. E até se entende tal postura. Pois aqui no Rio foi aonde nasceu à escola de samba. Então o olhar para outras praças carnavalescas era sempre com um tom muito severo de crítica.

Mas minha experiência assistindo aos desfiles das principais escolas de samba de São Paulo este ano, me fez a chegar à conclusão que o carnaval atual do nosso Rio, deveria aprender com algumas lições do pessoal de lá.

Uma delas é que a maioria das escolas de samba de São Paulo fez enredos que falavam da cultura local e nacional. A pérola Negra falou da história da dança a partir dos costumes da cultura da Vila Madalena, bairro onde está localizada a escola. A Unidos de Vila Maria contou a rica história de Ilha Bela, que fica no litoral paulistano. A religiosidade, folclore, indianismo e a homenagem ao samba carioca foram os outros temas escolhidos pelas agremiação de Sampa.

Esteticamente, o carnaval das escolas paulistanas também me chamou a atenção, pela recuperação dos elementos tradicionais de um desfile. Diria eu, certo tom nostálgico dos anos 60. Destaque de chão, maracatu, indianismo, festas coloniais, faziam parte da plástica dos desfiles, uma espécie de desfile retrô. Vi muito pouco LED, hi – tech e efeitos hollywoodianos. Os trabalhos realizados pelos carnavalescos das escolas paulistanas tiveram um cuidado, de preservar os símbolos e costumes da cultura de cada escola. Não houve heresia sendo cometida contra símbolos de uma tradição, em nome de uma suposta “genial modernidade”.

Outro fator que me chamou a atenção no carnaval paulistano foi a coerência do resultado do desfile dado pelo jurado. Aqui no Rio, todos nós estamos acompanhando o dilema levantado por várias escolas, questionando as notas dadas pelo jurado. A gente que vem de longe cobrindo carnaval sabe que têm muito chororô nesta história de nota dada pelo jurado. O que hoje está se sentindo furtado, foi o de ontem que ganhou o carnaval, também sendo acusado de ser beneficiado.

Mas nós que tentamos acompanhar e escrever sobre o carnaval e o olhamos para ele com isenção, percebemos que, se compararmos os resultados e colocações do carnaval paulistano com o carioca, perceberemos que o jurado paulistano agiu com mais coerência com a realidade que se viu na avenida. Então vejamos: A campeã do carnaval paulistano deste ano Império da Casa Verde foi à mesma que dois anos atrás, se revoltou contra as notas dadas pelo jurado e rasgou os mapas de apuração, proporcionando uma das cenas mais tristes do carnaval daquele ano. Mas esse ano passou bem e não houve por parte dos jurados nenhum revanchismo e ela se tornou campeã a meu ver e de boa parte da crítica com inteira justiça. A vice-campeã foi a modesta escola Acadêmicos do Tatuapé que trouxe como enredo a história da Beija Flor de Nilópolis. Não houve peso de bandeira no julgamento da escola e nem bairrismo, por está homenageando uma escola carioca. Ela mesmo desfilando depois da popular Gaviões da Fiel e com um público reduzido pela metade e cansado, conseguiu ser avaliada com responsabilidade por aqueles que têm a missão de eleger os melhores do carnaval. Lembrando também que a Tatuapé não têm a chancelaria de campeã do carnaval paulistano. Comparando com o carnaval carioca, a São Clemente ano passado fez um carnaval espetacular e toda a crítica e público foi unânime, em apostar na sua volta no desfile das campeãs, mas quando foram abertos os envelopes a escola de Botafogo, modesta como sua coirmã de São Paulo acabou num decepcionante nono lugar. Não estou querendo dizer, que o carnaval de São Paulo tem mais lisura do que do Rio, até porque não tenho dados para afirmar isso. Não é um papo sobre ética no carnaval, o que quero detectar, é que há uma coerência maior no resultado paulistano, em ralação ao que a crítica e o público ver, com o resultado dado pelo jurado. Reclamação sempre vai existir, pois todos acham que fez o seu melhor. Mas, tem que haver certa coerência e harmonia nas avaliações críticas feitas ao desfile. E o que se vêm assistindo no Rio de Janeiro nos últimos anos foi uma discrepância de opiniões e decisões muito grande. É só ler o noticiário que vocês chegarão as suas conclusões.
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PROFESSOR MARIANO

Historiador e pesquisador do carnaval, um dos fundadores do projeto Cadência da Bateria. 

Em suas colunas aborda o carnaval considerando os aspectos políticos e sociais e a importância dos desfiles para a construção da memória da cultura popular.

            
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Um comentário:

  1. Bom dia professor Mariano,

    Em primeiro lugar, parabéns pela crítica!
    Muito boa suas observações sobre o Carnaval de São Paulo e a comparação sensata com o Rio de Janeiro. Faltou apenas destacar que a bateria paulistana, apesar de eficiente e muito animada, ainda precisa evoluir no quesito criatividade para dar melhor andamento ao enredo.
    Os carros alegóricos são outro quesito que, na minha opinião, deixam a desejar. Embora bonitos e caprichados (nem todos claro...), também precisam de uma repaginação no design. Ao ver os desfiles ao vivo, têm-se a impressão de que o mesmo carro aparece em mais de uma agremiação, devido à posição e a semelhança dos elementos que os compõe.
    Grande abraço!

    Cristina Costa

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